Sonho

Sonhei que me afundava nos braços da morte...

Não sei quanto tempo durou a quietude...

Mas sei que este foi o único sonho bom que tive até hoje,

Desde o dia em que soube que os sonhos tinham acabado...

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Uma pequena história para meditar...

Esta é uma história taoísta, bastante famosa, sobre um agricultor que tinha um cavalo, do qual gostava muito.
Um dia, o cavalo fugiu e os vizinhos, por solidariedade, foram junto dele lamentar a pouca sorte. Perante esta manifestação de pesar o agricultor limitou-se apenas a tecer o seguinte comentário: - Talvez!...
No dia seguinte o cavalo regressou e trouxe com ele cinco cavalos selvagens e, os vizinhos, vieram, desta vez, congratular-se com a boa sorte do agricultor. Ele disse, apenas: - Talvez!...

No dia a seguinte, o filho do agricultor tentou montar um dos cavalos selvagens.
Caíu e partiu uma perna. De novo, os vizinhos voltaram e lamentaram a pouca sorte do agricultor. E ele respondeu: - Talvez!...

Na manhã seguinte, um grupo de oficiais veio à aldeia para recrutar os jovens para o exército mas, devido à perna partida, o filho do agricultor não foi escolhido. Quando os vizinhos vieram dar os parabéns ao velho agricultor, congratulando-se com as voltas da sorte, ele apenas disse:
- Talvez!...

terça-feira, 3 de maio de 2011

Com a alma na horta...

Comecei a plantar uma horta biodinâmica... Ah! Ah!
Brevemente, terei fotografias para partilhar...

terça-feira, 5 de abril de 2011

De Prometeu a Hermes


By o0o0xmods0o0o (Morguefile)

"Felicidade é a certeza que a nossa vida não está se passando inutilmente" - Erico Veríssimo

"...
Por acaso imaginaste, num delírio,
Que eu iria odiar a vida e retirar-me
Para o ermo
Por alguns dos meus sonhos se
Haverem
Frustrado?
Pois não: aqui me tens
E homens farei segundo minha própria
Imagem:
Homens que logo serão meus iguais
Que irão padecer e chorar, gozar e
Sofrer
E, mesmo que forem párias,
Não se renderão a ti como eu fiz."
                                                                             - Goethe in "Prometheus" (1744)-

Hermes foi adorado na Grécia Antiga como sendo um deus com várias responsabiliades. Era filho de Maia e de Zeus e mensageiro deste último e, como tal, idolatrado pela sua velocidade e reputado "diplomata", excelente comunicador e, como tal, extremamente persuasivo. Era também protector dos comerciantes...

Prometeu é o símbolo da Humanidade e constitui um dos mitos gregos mais presentes na cultura ocidental. O fogo significava a matéria-prima alquímica que originava e fortalecia a inteligência e a sabedoria, fazendo com que o Homem se diferenciasse dos outos animais. "Prometeu" significa, etimologicamente, o que primeiro pensa e só depois age.

No texto de Goethe, do qual retirei o extracto que apresentei acima, é descrito um homem extraordinário que se nega a venerar deuses ou estar sob a submissão de alguém.

Actualmente, interrogamo-nos sobre o "ensino do conhecimento". Segundo Edgar Morin o que deve ser privilegiado é o "ensino do conhecimento dos conhecimentos" e, na sua obra "Os Sete Saberes para a Educação do Futuro" são enunciados os princípios de um conhecimento pertinente onde as partes são solidárias do todo. Nela se exalta a condição humana, cuja complexidade se encontra desintegrada no ensino, devendo procurarse a unidade na diversidade dos conhecimentos e dos próprios humanos. Para tal impera a necessidade de ensinar a arte de enfrentar as incertezas que nos chegam através das ciências, a estratégia dos acasos, o exame dos acontecimentos e acidentes dos tempos que correm, o carácter inesperado da aventura humana da aventura humana e a compreensão, como penhor da paz, por oposição à barbárie e à incompreensão.

Considerando tudo isto pensei na televisão como uma escola, na rua como uma escola, nos bares e discotecas como uma escola, no futebol como uma escola... Gostaria que os jornais eivados de um jornalismo sério também o fossem mas, ao contrário destes, é a imprensa cor-de-rosa que mais escola faz.

Talvez, então, de forma demasiado simplista, considerarei que Hermes, o deus mensageiro, ganha terreno sobre Prometeu o deus do conhecimento...

Há já alguns anos atrás, num sábado de manhã dedicado à leitura de jornais e a um descontrair de pernas ao sol numa preguiça apetecida, uma crónica chamou a minha atenção. Vinha numa revista de um semanário, lembro-me vagamente que o autor era um jornalista americano, do qual não recordo o nome mas recordo claramente esta ideia: não estará longe o tempo em que um autocolante no vidro da rectaguarda de um automóvel com a simples afirmação "I Love America", seja considerado uma obra literária.

Consciente de que não há pedagogia sem transmissão e que, quanto mais acessível ela for, melhores e mais garantias tem de ganhar terreno, preocupa-me que as instituições de ensino a dificultem enquanto outros organismos a vão facilitando cada vez mais. Sabendo também que a pedagogia tem, indiscutivelmente, de ter uma finalidade ou finalidades  e que para a ou as ter tem de conhecer os destinatários, pergunto-me se a escola sabe, se conhece bem os seus alunos e respectivas famílias, se sabe ou procura saber que dificuldades, que angústias, que desejos e que sonhos se encontram por trás da máscara social que esses destinatários transportam consigo no quotidiano. Se não sabe não pode, obviamente, dar respostas. Posso, também colocar a seguinte questão: entre Arlequim e Pierrot o que escolhe a escola? O manto variegado de cores do primeiro ou o manto branco, asséptico e universal do segundo?

Uma escola inclusiva, acolhedora das diferenças e das incertezas tem de ser, forçosamente, colorida. E, como a vamos colorir, como vamos articular as cores para que o resultado seja atractivo e motivador? Como motivar os alunos se os professores, eles próprios se sentem desmotivados?

Aos idealismos da década de 60/70 do século passado foram-se sucedendo reformas atrás de reformas que, regra geral, serviram apenas para atrofiar os sonhos e os ideais deixando cada vez menos "espaço para manobras" e, como que para melhorar esse espaço cada vez mais exíguo as escolas foram-se acomodando, tudo ía sendo feito com calma, com muita calma, que a vida já era complicada que chegasse!... A comunidade escolar foi aceitando... a aventura e a cor foram desaparecendo em favor de um monocromatismo acinzentado. Mais recursos, mais dinheiro, mais condições materiais mas, cada vez menos cor, menos entusiasmo, menos sonho, menos voluntarismo e criatividade... Tudo isto passou a ser oferecido por outros que não a escola. Através de outros meios os alunos conseguem aprender sobretudo a forma mais fácil de tirar boas notas gastando o mínimo de energia possível. Como foi possível que um campo tão fértil como deveria ser a escola crie tanta palha e tão pouco grão?

Ao longo dos anos tem-se vindo a acumular o número de disciplinas e a escola tem-se visto "obrigada" pela sociedade de comunicação, sob os auspícios do espírito comercial e da rapidez de Hermes, a dar respostas aos mais variados problemas sociais: alcoolismo? É necessário prevenir, vamos começar pela escola! Toxicodependência? Intervenhamos a nível escolar. Mães solteiras, cada vez mais e mais novas? Educação sexual nas escolas, já! Poluição, acidentes rodoviários, integração das minorias, incêndios florestais, segurança no trabalho? A tudo isto e muito mais a escola tem vindo a ser solicitada a arranjar soluçõese, cada vez mais, é apontada negativamente porque não tem sido capaz...

Por outro lado a educação é encarada como uma mercadoria e tem vindo a assumir o destino de todos os outros bens de consumo: há caro e há barato! Esta "comercialização" assusta-me porque o comércio e o consumo geram diferenças, quem tem poder de compra tem mais e melhor acesso. à escola pública ficará reservado o papel de servir destinatários menos exigentes e que menos a valorizam. Por outro lado, a multiculturalidade das sociedades que vem deixando pelo caminho tantos que não têm as mesmas oportunidades, tem-se refugiado nas escolas públicas. O oportunismo, os lobbies, e a pobreza intelectual de muitos burocratas e pedagogos associados à cobardia de outros responsáveis tem impedido que se analise e avalie com seriedade e com a máxima urgência, este problema ou, melhor dizendo, este processo: como avaliar a diferenciação de funções da educação e das populações a educar? Considero que estes dois aspectos têm de, necessariamente, ser analisados em separado. Se não o forem e continuarem a ser metidos na mesma panela farão um caldo que esturrará dentro de pouco tempo. Se, feita a análise, concertarmos que temos de por de lado uma prática estereotipada e conservadora de que as diferenças culturais pertubam o funcionamento da escola e considerarmos que elas são, de facto,  uma fonte de enriquecimento e criatividade, deixaremos de tentar a produção de "produtos brancos", mais baratos, iguais para todos e que vendem bem apesar da menor qualidade porque não podemos competir com o mundo elitista das grandes e dispendiosas marcas. E, porque queremos todos ter uma escola diferente da que temos, é necessário começar, de facto, a desejar, a sonhar, a aprender, até porque para "ensinar as coisas mais simples é preciso saber muito..."

Para concluir, é necessário tomar consciência de que se nos deixarmos estar numa complacência de preguiça pendurada no ramo à espera que se passe alguma coisa, será uma marca de cerveja ou de outra coisa qualquer, não tardará muito, a patrocinar as escolas, como se elas fossem um festival de verão...
Ou isso, ou o ramo parte!...

quarta-feira, 23 de março de 2011

O Poeta e o poema que nunca esquecerei...

CHOVE!

Chove...

Mas isso que importa!,
se estou aqui abrigado nesta porta
a ouvir a chuva que cai do céu
uma melodia de silêncio
que ninguém mais ouve
senão eu?

Chove...

Mas é do destino
de quem ama
ouvir um violino
até na lama.

José Gomes Ferreira

Um poeta atormentado...

 

A um poeta

Tu, que dormes, espírito sereno,
Posto à sombra dos cedros seculares,
Como um levita à sombra dos altares,
Longe da luta e do fragor terreno,

Acorda! é tempo! O sol, já alto e pleno,
Afuguentou as larvas tumulares...
Para surgir do seio desses mares,
Um mundo novo espera só um aceno...

Escuta! é a grande voz das multidões!
São teus irmãos, que se erguem! são canções...
Mas de guerra... e são vozes de rebate!

Ergue-te pois, soldado do Futuro,
E dos raios de luz do sonho puro,
Sonhador, faze espada de combate!                      

                                                                                Antero de Quental

Florbela...

 

Lágrimas ocultas

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...

E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!

Florbela Espanca

Primavera e um poeta transmontano no centro de Coimbra...



Súplica

Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.

Porque começou a Primavera e é tempo de poesia...



As mãos

Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.
Manuel Alegre, O Canto e as Armas, 1967